Blogs X Gravadoras na imprensa

Finalmente a mídia parece estar acordando para batalha entre blogueiros e indústria de entretenimento. Quem chamou a atenção para a polêmica foi a Folha de São Paulo, em outubro, com a matéria Associação antipirataria trava guerra contra comunidade de 755 mil no Orkut, do editor de Informática do periódico, Diógenes Muniz.

"Uma guerra silenciosa, travada nos bastidores da principal rede social do país, preocupa internautas que baixam música pela internet. O Orkut, braço do Google que neste ano passou a ser chefiado por uma equipe brasileira, começou a deletar pedaços da sua maior comunidade dedicada a compartilhamento de arquivos MP3, a "Discografias".


Depois de conquistar espaço Folha, o problema também despertou o interesse de outros jornais. A polêmica estava lá todo o tempo, palpável, bem diante dos olhos de quem quisesse perceber, e a imprensa só se deu conta (numa atitude que estou fazendo esforço para não classificar como Maria-vai-com-as-outras, mas tudo bem) depois que um grande jornal investiu na pauta. Antes tarde do que nunca, não é o que dizem? Pode ser. Pena que a maioria dos textos é tudo ctrl+c ctrl+v descarado.

Blogs de músicas ameaçados
Jornal do Comércio

Justiça ameaça blogs que disponibilizam CDs e discos raros
Vermelho

Blogs que disponibilizam Cds raros podem fechar
adNews

Por fim o Estadão, em novembro, publicou a reportagem Blogueiros defendem seu cárater cultural, destacando que blogs possibilitam acesso a raridades.

"Há uma significativa diferença entre postar CDs recém-lançados - que muitas vezes aparecem nos blogs antes de chegar às lojas - e antigos e obscuros LPs, que as gravadoras não cogitam relançar por não ter "valor comercial". Mas nem todos os blogueiros de música lidam bem com esse aspecto ético. Diletantes, uns se dão o trabalho de revirar os próprios baús e formam redes de colaboradores. Outros criam compilações próprias e fazem arte de capa para CD, como o Sacundinbenblog, que acaba de postar uma coletânea com canções mais funkeadas de Roberto Carlos. Há também os que se viram com o que cai fácil na rede, sem critério e sem estilo, para criar os sites. Os bons têm uma listagem de links de parceiros, o que vira uma aventura sem fim vasculhar o material de um e de outro. Os textos editoriais ressaltam o fato de nenhum ter fins lucrativos, mas caráter cultural. Eis a questão."

Lágrima Psicodélica está na mira da Digital Millenium Copyright Act

O Lágrima Psicodélica é um dos maiores acervos de discos de rock n' roll da internet. Criado em 2005 por Johnny F - um apaixonado por música, filosofia e tecnologia -, o blog conta com 38 colaboradores e recebe cerca de 195 mil visitantes por mês. Além de promover o acesso à música de qualidade e textos interessantes, tornou-se um espaço democrático de discussão e troca de idéias.

Recentemente, o Lágrima recebeu notificações do Blogger, nos termos da Digital Millennium Copyright Act (DMCA), para que retirasse alguns links do ar, sob pena de ser deletado caso não cumprisse a solicitação.

"Essas notificações não servem para nada, já que muitos de nós conhecemos nossos direitos e deveres e também sabemos que durante uma conquista alguns devem tombar. Se alguns blogs são deletados, milhares de outros são criados todos os dias e na sua grande maioria são de compartilhamento", afirma Johnny, que não acredita ser possível conter o avanço tecnológico.

Eu conversei com o blogueiro sobre a polêmica, numa entrevista que vocês podem conferir abaixo.

Por que o hábito de baixar conteúdo sem pagar tornou-se tão natural para as pessoas?
O preço alto cobrado pelos álbuns levou muita gente a baixar suas músicas pela Internet. Como essa prática (baixar sem pagar diretamente, já que pagamos para acessar a WEB) surgiu primeiro, esse hábito foi sendo difundido e hoje virou Cultura. Outro motivo está no fato de que muitos álbuns estão fora de catálogo ou para serem conseguidos só importando, quando são encontrados.

Por que você gosta de compartilhar arquivos?
Compartilhar é um ato de doar, de minimizar a desigualdade que o CAPITAL determinou. Assim, se eu tenho algo e você também, podemos compartilhar isso com outras pessoas, para que elas possam também ter. Além de divulgar os trabalhos dos artistas. Logo, compartilhar também é divulgar.

A indústria fonográfica tenta fortalecer a idéia de que quem baixa discos sem pagar é ladrão. Você concorda com esse pensamento?
Não. A Indústria Fonográfica quer botar a culpa de sua incompetência no compartilhamento. Os altos preços cobrados por eles e seus investimentos errados fizeram com que a margem de lucro tenha caído e por conta disso a culpa é nossa? Bons artistas continuam vendendo.

Você acredita que os usuários vão se acostumar a pagar por arquivos que, se quiserem, podem conseguir de graça? O que a indústria precisa fazer para que os consumidores vejam vantagem em pagar pelo conteúdo?
A indústria deve comercializar arquivos de música de ótima qualidade e deixar liberado por exemplo, arquivos entre 128 e 192 kbps para divulgação ou mesmo para álbuns fora de catálogo. Os preços dos CDs devem ser reduzidos para que muitos possam comprar. No nosso caso, continuamos comprando porque gostamos da qualidade do original, da capa, encarte e fotos.

Os downloads ilegais prejudicam os artistas? Por que?
Não, isso é um argumento falacioso e apelativo da Indústria Fonográfica para nos culpar por sua incompetência. Não vamos matar os artistas, mesmo porque eles vivem dos shows e estamos divulgando seus trabalhos.

Você acha que baixar o disco antes e conhecer as músicas é uma condição, hoje, para a maioria das pessoas decidir comprar um CD?
É certo que sim. Quando escutamos um álbum antes de comprá-lo temos certeza de onde estamos investindo o nosso capital e não gastaremos em algo que não era bem o que queríamos.

E você, compra CDs?
Compro sim, pela segurança de não perder meus álbuns favoritos, pela qualidade sonora e gráfica, embora o CD perca muito para o vinil, mas isso já é uma outra questão.

Quem rouba quem?



Vídeo produzido pelo pessoal do Axincalhante, com uma crítica debochada e inteligente sobre as propagandas anti-pirataria divulgadas entre os trailers dos DVDs e na televisão. Esses vídeos são tão pesados, fora de propósito e descontextualizados que já ouvi falar de gente que diminui o volume da televisão para que os filhos pequenos não se assustem.

Ministério da Cultura distribui cartilha informativa sobre direitos autorais

Navegando pelo A2kbrasil, projeto do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas, descobri que o Ministério da Cultura distribuiu uma cartilha informativa sobre copyright, durante o 2º Fórum Nacional de Direito Autoral, que foi realizado no Rio de Janeiro, em outubro. O objetivo do encontro, realizado pela primeira vez em 2007, é discutir a legislação existente e possíveis revisões dos textos referentes ao tema.

A cartilha apresenta 11 tópicos superficiais para entender o tema, mas não se aprofunda na questão essencial da polêmica: a liberdade que o público encontrou na internet para ter acesso a todo tipo de conteúdo sem pagar absolutamente nada e, consequentemente, sem proporcionar retorno financeiro para artistas e gravadoras.

Parece que o governo está mais interessado em encontrar formas para impedir o fluxo livre de conteúdo na internet, identificando o comportamento dos usuários como uma atitude ilegal, do que em discutir as mudanças com consciência de que é preciso descobrir outra alternativa para o sistema de comercialização de conteúdo cultural e entretenimento.

Zezé Di Camargo acredita que downloads de mp3 ajudam na divulgação dos artistas

Navegando distraidamente pelos feeds do meu Google Reader, deparei-me com essa chamada: Baixar música na internet ajuda mais do que atrapalha, diz Zezé Di Camargo. Interessante. Eu passo longe de música sertaneja, mas fiquei curiosa para conferir a opinião do indivíduo.

"Baixar a música pela internet é danosa, mas ajuda a divulgação da música. O formato [MP3] é bom, mas a maneira como está fazendo é ruim. Música é fonte de renda para muita gente. Tem muitos profissionais por trás da música. O cara baixa a sua música e não vai comprar seu CD. Por outro lado, ajuda com a divulgação. Eu acho que, fazendo um balanço, ajuda mais do que atrapalha", disse Zezé, em entrevista à Folha de São Paulo.

O cantor também opinou sobre o governo Lula, eleições americanas, criticou o tal sertanejo universitário e comentou seus gostos musicais. Para alguém que admite ter lido muito pouco na vida, Zezé enche a boca pra tagarelar sobre tudo. Mas vamos dar um ponto positivo para o cara pela postura moderninha em relação aos downloads de mp3, vai.

Relação literatura e internet divide opiniões de escritores brasileiros e estrangeiros

“A indústria do livro não pode repetir o erro da indústria fonográfica”, disse o jornalista e escritor Laurentino Gomes, autor do best-seller 1808, em entrevista ao caderno virtual Link, do Estadão.

O pensamento do autor em relação aos e-books é compartilhado pelo campeão de venda de livros do Brasil, Paulo Coelho, que enxerga o livre compartilhamento de conteúdo pela internet como uma forma de divulgação das obras. Na opinião do escritor, a internet é uma ferramenta de democratização da literatura, pois permite que o público tenha acesso a muitos trabalhos que normalmente ficariam em gavetas.

Com esse posicionamento, Paulo Coelho criou o blog Pirate Coelho, onde disponibiliza todas as traduções que encontra na internet para as suas obras, facilitando o trabalho de piratear seus livros.

Infelizmente, esse ponto de vista inovador não é compartilhado pela maioria dos editores brasileiros. “O grande ponto negativo da internet, no que diz respeito aos livros, é a possibilidade de que pessoas utilizem a rede para praticar a pirataria, violando direitos autorais e desestimulando a criação intelectual e artística”, acredita o diretor-geral da editora Objetiva, Roberto Feith.

Desestimular a criatividade intelectual? Acho que não. Pela experiência que tenho navegando na rede, observo que quanto mais os meios de divulgação se expandem, mais artistas surgem expondo seus trabalhos. Sejam eles músicos, em sites como MySpace, Purevolume e TramaVirtual, sejam desenhistas, designers ou fotógrafos, no Flickr ou DeviantArt, ou sejam eles escritores, disponibilizando suas obras em sites de e-books, blogs e até mesmo no Orkut.

Nunca houve tanta opção de conteúdo para quem está cansado do cardápio oferecido pelos grandes conglomerados de mídia, e, no fundo, esse é o verdadeiro problema que aflige a indústria do entretenimento: eles estão perdendo o poder de decidir o que o público vai querer.

MySpace acredita que importância das gravadoras diminui gradativamente

"As gravadoras não são mais necessárias para um artista fazer uma carreira", afirmou o diretor internacional do MySpace, Travis Katz, em entrevista ao Yahoo Notícias. Apesar de o site ter se juntado às gigantes SonyBMG, Universal, EMI e Warner para oferecer streaming gratuito e patrocinado, além de serviço de compra de música por menos de um dólar, Katz avalia que tendência é a importância das gravadoras diminuir cada vez mais.

O executivo acredita que, atualmente, qualquer pessoa pode gravar suas próprias músicas em um notebook e fazer a divulgação online. Com esse pensamento em vista, o MySpace lançará, nos próximos meses, um serviço que permitirá a qualquer artista vender ou disponibilizar as suas músicas para baixar de graça sem necessitar do intermédio de uma gravadora.

"A indústria da música precisa se adaptar", afirma Katz. "O futuro da música é permitir às pessoas consumirem música quando e como quiserem."